quarta-feira, 25 de julho de 2012

Rio terá um batalhão de candidatos militares nas eleições


Em todo o estado, 563 policiais e bombeiros tentam se eleger 
RIO - A tarefa de investigar as campanhas de policiais militares, civis e bombeiros em busca de indícios da ligação de algum candidato com grupos paramilitares, anunciada semana passada na primeira reunião da força-tarefa criada pelo Tribunal Regional Eleitoral, tende a esbarrar num obstáculo numérico. Em todo o estado, 563 integrantes das três instituições tiraram licença remunerada de suas funções para concorrer nas próximas eleições. Um batalhão de candidatos, onde PMs são maioria com 385 nomes registrados no TRE, seguidos por bombeiros (116) e policiais civis (62).

Na relação de 385 PMs candidatos chama a atenção o número de sargentos, cabos e soldados, que representa quase 90% do total de licenciados. Com saldos que variam entre R$ 1,2 mil e R$ 2 mil, pelo menos 30 desses candidatos informaram ao TRE não possuir bens, mas estimam gastar em suas campanhas cifras acima de meio milhão de reais. Entre os nomes elencados na listagem do TSE, o nome do sargento da PM Márcio Alexandre Alves, de 39 anos, que socorreu as crianças da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo,e baleou o assassino Wellington Menezes de Oliveira, em abril do ano passado. O militar concorre ao cargo de vereador pelo PMDB.

Para o procurador Regional Eleitoral, Maurício Ribeiro, chama a atenção o número de policiais tentando uma vaga para vereador. Ele acredita que haja até mais candidatos que saíram das fileiras das corporações, mas que não informaram a real profissão ao TSE:
_ O número de candidatos oriundos da polícia é elevado. Não podemos partir do pressuposto de que os 563 têm envolvimento. Não podemos presumir culpa. Desde a instalação do Centro de Controle e Comando das Eleições 2012, temos recebido denúncias de policiais ligados às milícias ou coagindo eleitores. A lista pode ser maior, se partirmos do princípio de que o cargo ocupado é fornecido pelo próprio candidato. Ele pode achar interessante não pôr a ocupação principal, a de policial e, ao invés disso, registrar outra profissão, disse o procurador.

O corregedor da Polícia Militar, coronel Waldyr Soares Filho, afirmou que, mesmo licenciados, os policiais militares vão continuar sendo acompanhados pela corporação:
— O fato de ter se afastado para concorrer às eleições não quer dizer que o policial vai deixar de ser monitorado. Não só eles, como os policiais que derem apoio na formação de currais eleitorais ou mesmo nos casos em que eles estiverem constrangendo moradores a votarem em algum candidato, serão autuados com rigor. O policial militar não pode se aproveitar de sua condição para angariar votos dos cidadãos tanto no morro quanto no asfalto. Este monitoramento não se restringe ao período eleitoral, mas em todos os dias do ano — disse Waldyr.

Diretor do Departamento de Estudos Estratégicos da UFF, o cientista político Eurico Figueiredo afirma ser comum que candidatos busquem votos em bases corporativas ou sindicais. Para ele, no entanto, é preciso analisar de onde vem os recursos que financiarão as campanhas desses policiais, principalmente, no caso de agentes da lei que têm salários baixos, não apresentam patrimônio, mas haja a previsão de gastar grandes somas em suas campanhas:
— Toda representação legitima é bem vinda, mas não na via inversa. O candidato busca representar um segmento, mas o principal é que as autoridades estejam preparadas para investigar os indícios de irregularidades e o histórico político desses candidatos dentro de suas instituições. Dessa forma é possível avaliar se o candidato representa uma categoria ou um grupo específico — defende.

 No último dia 17, o subsecretário de Inteligência, delegado da PF Fábio Galvão confirmou que a Secretaria de Segurança tem um levantamento dos currais eleitorais das milícias, que será usado como base para investigar a possível ligação de candidatos agentes da lei com milícias. O mapeamento indica atividades de paramilitares em 184 áreas do estado:
— Estamos analisando os nomes dos policiais e bombeiros que estão licenciados para concorrer nas eleições, isso não quer dizer que todos têm ligação com milicianos. Nosso objetivo é identificar os que se aliaram aos paramilitares para intimidar os eleitores a votar neles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário