As pesquisas não mostram. Não há
números dessas famílias que já começam a frequentar o nosso dia a dia: são os
casados morando em casas separadas e crianças morando em duas casas diferentes.
É dessa maneira que os jornalistas Álvaro Neiva e Angela Goes resolveram
continuar a criar os filhos há sete anos, quando se separaram, conforme mostra
a última reportagem da série “A nova família brasileira”, iniciada pelo GLOBO
no domingo passado...
Dever de
casa é um problema
Ana Saboia, coordenadora de
Indicadores Sociais do IBGE, estuda as maneiras que os institutos mundo afora
estão usando para medir essas famílias que não moram juntas. As pesquisas
sociais são feitas nos domicílios. No caso de Beatriz e Mateus, eles foram
agrupados numa casa com pai sozinho ou mãe sozinha, dependendo do dia que o
recenseador fez a entrevista. Ou pode até haver dupla contagem se o recenseador
for na casa de Angela e Álvaro quando as crianças estiverem lá:
Outra mudança que tem que
acontecer é com as políticas públicas, lembra o sociólogo da UnB Marcelo
Medeiros. Ele cita o Bolsa Família:
— O programa é atrelado à noção
de que as famílias vivem no mesmo domicílio. Temos que adaptar a política
pública a essas mudanças.
Enquanto as instituições correm
atrás para tentar medir e atender a essas novas configurações nos domicílios,
Angela e Álvaro enfrentam os problemas para organizar a vida dos filhos em duas
casas. Uma das dificuldades é o dever de casa:
— Nós chegamos a ser chamados na
escola porque as crianças não estavam levando o dever. Tivemos que explicar que
nessa forma de convivência pode haver esses problemas. As crianças esquecem o
material escolar numa casa ou na outra. Tentamos que isso ocorra o menos
possível, mas às vezes acontece — afirma Álvaro.
— Fica uma casa cheia de chinelos
e outra cheia de casacos. Como Beatriz é mais organizada, ela sofre mais com as
cobranças na escola. Mas como Álvaro já tinha passado por essa experiência,
sabíamos que poderia dar certo. O objetivo era que as crianças pudessem
conviver com os dois igualmente — diz Ângela.
A criação é conjunta. Todas as
decisões sobre as crianças são discutidas, segundo Angela:
— Mais tarde, eles poderão
escolher com quem morar. Foi assim com Álvaro, que decidiu ficar com a mãe aos
18 anos.
Em quase
30% dos lares, responsabilidades divididas
Fabiana Martin e Bruno Sampaio
estão casados há mais de dois anos. Nunca houve um acerto verbal sobre como
administrariam a casa. O trabalho e as despesas são divididas sem muitas
discussões. Esse formato de organização familiar está presente em 29,6% dos
domicílios brasileiros. Pela primeira vez, um censo demográfico perguntou às
famílias se havia ou não responsabilidade compartilhada dentro de casa. E
descobriu que já estava estabelecida em 16,967 milhões de lares no Brasil.
— Até as nossas compras são
divididas. Eu compro os produtos de limpeza e dou as orientações para a
faxineira e ele compra a comida. A casa eu arrumo e lavo a roupa. Ele cozinha e
lava a louça — explica a arquiteta Fabiana.
O censo do IBGE também captou que
essa forma de administrar o lar era mais presente nos casais sem filhos. Nessas
famílias, estão concentrados 63,4% dos lares com responsabilidade
compartilhada.
Filhos estão nos planos, mas não
para agora. Nesse momento, talvez o acordo mude. As pesquisas indicam que o
homem trabalha menos em casa quando há filhos. A divisão de tarefas é mais
equânime entre os casais que trabalham e não têm filhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário