A
uma semana do primeiro turno das eleições municipais, 640 candidatos a
prefeito em 602 cidades podem ir para as urnas no próximo domingo ainda
sem saber se poderão tomar posse caso sejam eleitos. Ou seja, podem até
ganhar, mas correm o risco de não assumir o cargo. Isso acontece porque
esses políticos estão com as candidaturas indeferidas ou cassadas, e o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não julgou os recursos. Até o
momento, a Corte analisou 241 processos referentes a candidaturas ao
Executivo, incluindo casos de concorrentes que tiveram o registro
aprovado em instâncias anteriores e contestado por partidos adversários
ou pelo Ministério Público Eleitoral (MPE).
No
Rio, 32 candidatos em 26 cidades tiveram seus registros indeferidos ou
cassados. É o segundo estado onde, proporcionalmente, há mais municípios
com pelo menos um concorrente à prefeitura nesta situação. Há prefeitos
no estado que concorrem à reeleição sem ter a certeza de que sua
candidatura vai ser liberada. São os casos de Rachid Elmor (PDT), de
Paty do Alferes, Rafael Miranda (PP), de Cachoeiras de Macacu, e Rosinha
Garotinho (PR), de Campos dos Goytacazes. Também existem ex-prefeitos
que tentam voltar ao cargo e aguardam recursos. Em Tanguá, o número de
pendurados atinge metade dos aspirantes ao Executivo. Para tentar
garantir a vaga, todos recorreram ao TSE.
— Infelizmente, a
legislação admite que isso ocorra, o que só gera instabilidade e
insegurança jurídica e institucional. Trata-se dos candidatos eleitos
com pedido de registro sub judice, ou seja, aqueles cujos registros
foram indeferidos, mas recorreram das decisões nos tribunais regionais
eleitorais ou ao TSE. Assim, o candidato concorre com o registro de
candidatura indeferido, porém à espera do julgamento de um recurso
visando à reforma da decisão de indeferimento — explicou o coordenador
do 5º Centro de Apoio Operacional das Promotorias Eleitorais do Rio,
Rodrigo Molinaro Zacharias.
O fato de a candidatura não estar
julgada até a eleição pode causar insegurança tanto para o candidato
quanto para o eleitor. O político pode ter dificuldades de encontrar
doadores, já que não há garantia de que ele terá o registro aprovado. E é
ruim para o eleitor, que pode votar em um concorrente que, depois da
eleição, corre o risco de ser considerado inapto. Com isso, o voto do
eleitor no candidato é anulado.
De acordo com resolução do TSE,
nenhum candidato com registro indeferido pode ser diplomado — ato em que
a Justiça oficializa quem foi eleito —, mesmo que exista recurso. Caso
isso ocorra e o candidato a prefeito mais votado não tiver a maioria
absoluta dos votos válidos, o segundo colocado na eleição tomará posse.
Essa situação vai perdurar até o julgamento final do registro do
primeiro colocado. Entretanto, se o mais votado estiver com o registro
indeferido e obtiver mais da metade dos votos válidos, será preciso
convocar uma nova eleição. Até lá, o presidente da Câmara Municipal
assumirá o cargo de prefeito interinamente. Ainda assim, existe a
possibilidade de políticos eleitos, e ainda com o registro indeferido,
sejam diplomados, amparados por liminares.
O TSE informou que os
casos deverão ser julgados até o fim de dezembro, data das diplomações.
Até agora, 5.223 recursos sobre registro chegaram à Corte. Pouco menos
de um terço foi julgado. Cerca de 40% dos processos são sobre a Lei da
Ficha Limpa.
— Muitos candidatos que deveriam ter recorrido ao
Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) perderam o prazo e entraram direto
com recurso no TSE. Isso aconteceu em pelo menos 48 candidaturas do Rio —
disse o presidente do TRE-RJ, desembargador Luiz Zveiter, explicando
que isso sobrecarrega o TSE.
O PR é, proporcionalmente, o partido
com o maior número de candidaturas a prefeito indeferidas. São 48 nessa
situação entre os 703 políticos da sigla que concorrem ao Executivo.
—
Às vésperas da eleição, o político desiste, e o partido indica outro. O
eleitor não tem tempo de se informar. Ao digitar o número do candidato
que renunciou, os eleitores verão a foto dele, já que os dados estão na
urna. O cidadão vota em um e elege outro — explica Molinaro.
Essa
constatação é corrente entre os membros do MPE, que defendem mudança na
lei. Na tentativa de impedir que os partidos adotem essa prática, o
procurador regional eleitoral do Rio, Maurício da Rocha Ribeiro,
recomendou que as siglas não substituam os candidatos a menos de dez
dias das eleições, sem justa causa, sob pena de caracterizar fraude
eleitoral.
Há ainda 924 candidatos a prefeito que estão com o
registro deferido, mas o MPE ou coligação adversária ainda contestam a
decisão. Pode acontecer de o TSE mudar o entendimento das instâncias
anteriores, e o político, que até então estava aprovado, fica impedido
de assumir se eleito.
Apenas um dos três candidatos que disputam a
prefeitura de Cachoeiras de Macacu teve a candidatura deferida, sem
pendências judiciais. O atual prefeito, Rafael Miranda (PP), que tenta a
reeleição, teve o registro negado pelo TRE e recorreu. O registro do
ex-prefeito Cica Machado (PSC) foi aprovado, mas a coligação que apoia o
prefeito tenta mudar a decisão.
— Cachoeiras de Macacu é uma
cidade de interior, mas não é pequena. A eleição é muito disputada. A
apuração parece final de Copa do Mundo. Tem telão na praça, e todos
vibram a cada totalização dos votos. Há até brigas de torcida — explicou
a juíza eleitoral da cidade, Carla Regina da Costa.
Procurado pelo GLOBO, Miranda não estava na prefeitura no horário de expediente e não retornou as ligações.
Na
vizinha Tanguá, dos sete políticos que concorrem à prefeitura, quatro
tiveram candidatura indeferida, sendo que apenas um deles não recorreu.
Lá, os eleitores se dividem entre os descrentes da política e aqueles
que valorizam a intenção de voto ao extremo.
— Outro dia,
prenderam cabos eleitorais de um candidato a prefeito comprando votos
por R$ 100. Não dá para jogar o voto fora. Sou a favor de quem tem ficha
limpa — disse a estudante, Paola dos Santos, de 17 anos.
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