Em todo o estado, 563 policiais e bombeiros tentam
se eleger
RIO - A
tarefa de investigar as campanhas de policiais militares, civis e bombeiros em
busca de indícios da ligação de algum candidato com grupos paramilitares, anunciada
semana passada na primeira reunião da força-tarefa criada pelo Tribunal
Regional Eleitoral, tende a esbarrar num obstáculo numérico. Em todo o estado,
563 integrantes das três instituições tiraram licença remunerada de suas
funções para concorrer nas próximas eleições. Um batalhão de candidatos, onde
PMs são maioria com 385 nomes registrados no TRE, seguidos por bombeiros (116)
e policiais civis (62).
Na
relação de 385 PMs candidatos chama a atenção o número de sargentos, cabos e
soldados, que representa quase 90% do total de licenciados. Com saldos que
variam entre R$ 1,2 mil e R$ 2 mil, pelo menos 30 desses candidatos informaram
ao TRE não possuir bens, mas estimam gastar em suas campanhas cifras acima de
meio milhão de reais. Entre os nomes elencados na listagem do TSE, o nome do
sargento da PM Márcio Alexandre Alves, de 39 anos, que socorreu as crianças da
Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo,e baleou o assassino Wellington
Menezes de Oliveira, em abril do ano passado. O militar concorre ao cargo de
vereador pelo PMDB.
Para o
procurador Regional Eleitoral, Maurício Ribeiro, chama a atenção o número de
policiais tentando uma vaga para vereador. Ele acredita que haja até mais
candidatos que saíram das fileiras das corporações, mas que não informaram a
real profissão ao TSE:
_ O
número de candidatos oriundos da polícia é elevado. Não podemos partir do
pressuposto de que os 563 têm envolvimento. Não podemos presumir culpa. Desde a
instalação do Centro de Controle e Comando das Eleições 2012, temos recebido
denúncias de policiais ligados às milícias ou coagindo eleitores. A lista pode
ser maior, se partirmos do princípio de que o cargo ocupado é fornecido pelo
próprio candidato. Ele pode achar interessante não pôr a ocupação principal, a
de policial e, ao invés disso, registrar outra profissão, disse o procurador.
O
corregedor da Polícia Militar, coronel Waldyr Soares Filho, afirmou que, mesmo
licenciados, os policiais militares vão continuar sendo acompanhados pela
corporação:
— O fato
de ter se afastado para concorrer às eleições não quer dizer que o policial vai
deixar de ser monitorado. Não só eles, como os policiais que derem apoio na
formação de currais eleitorais ou mesmo nos casos em que eles estiverem
constrangendo moradores a votarem em algum candidato, serão autuados com rigor.
O policial militar não pode se aproveitar de sua condição para angariar votos
dos cidadãos tanto no morro quanto no asfalto. Este monitoramento não se
restringe ao período eleitoral, mas em todos os dias do ano — disse Waldyr.
Diretor
do Departamento de Estudos Estratégicos da UFF, o cientista político Eurico
Figueiredo afirma ser comum que candidatos busquem votos em bases corporativas
ou sindicais. Para ele, no entanto, é preciso analisar de onde vem os recursos
que financiarão as campanhas desses policiais, principalmente, no caso de
agentes da lei que têm salários baixos, não apresentam patrimônio, mas haja a
previsão de gastar grandes somas em suas campanhas:
— Toda
representação legitima é bem vinda, mas não na via inversa. O candidato busca
representar um segmento, mas o principal é que as autoridades estejam
preparadas para investigar os indícios de irregularidades e o histórico
político desses candidatos dentro de suas instituições. Dessa forma é possível
avaliar se o candidato representa uma categoria ou um grupo específico —
defende.
No último dia 17, o subsecretário de
Inteligência, delegado da PF Fábio Galvão confirmou que a Secretaria de
Segurança tem um levantamento dos currais eleitorais das milícias, que será
usado como base para investigar a possível ligação de candidatos agentes da lei
com milícias. O mapeamento indica atividades de paramilitares em 184 áreas do
estado:
— Estamos
analisando os nomes dos policiais e bombeiros que estão licenciados para
concorrer nas eleições, isso não quer dizer que todos têm ligação com
milicianos. Nosso objetivo é identificar os que se aliaram aos paramilitares
para intimidar os eleitores a votar neles.
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