BRASÍLIA
- As chances de uma criança ou adolescente brasileiro morrer assassinado são
maiores hoje do que eram há 30 anos, colocando o país na quarta pior colocação
numa comparação com outros 91 países. Em 1980, a taxa de homicídios na
população entre zero e 19 anos era de 3,1 para cada 100 mil pessoas. Pulou para
7,7 em 1990, chegou a 11,9 em 2000 e alcançou 13,8 em 2010. Um crescimento de
346,4% em três décadas, em contraste com a mortalidade provocada por problemas
de saúde, que teve queda acentuada. Quando considerada toda a população, a taxa
de homicídios em 2010 foi de 27 por 100 mil habitantes. Considera-se que há uma
EPIDEMIA DE HOMICÍDIOS quando a taxa
fica acima de 10 por 100 mil.
No
Brasil, em 2010, 8.686 crianças e adolescentes foram vítimas de homicídio. De
1981 a 2010, o país perdeu 176.044 pessoas com 19 anos ou menos dessa forma.
Meninos representam em torno de 90% do total.
Os
números são do estudo “Mapa da Violência 2012 — Crianças e Adolescentes do
Brasil”, do pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador de Estudos sobre a
Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) no Brasil.
Além dos assassinatos, o estudo analisou as mortes violentas causadas por
fatores externos, dividindo-as em cinco grupos: homicídios, acidentes de
transporte, outros acidentes, suicídios e outras violências. Em 2010, de todas
as mortes violentas de crianças e adolescentes, 43,3% foram homicídios; 27,2%
acidentes de transporte; 19,7% outros acidentes.
O aumento
mais acentuado — tanto na taxa de todas as causas externas quanto na de
homicídios — ocorreu na década de 1980. Nos anos 90, houve desaceleração, mas
ainda assim cresceu. Entre 2000 e 2010, a taxa de causas externas diminuiu,
atingindo seu menor índice em 2006, mas desde então voltou a crescer. Os
homicídios caíram no começo da última década, mas voltaram a aumentar,
superando em 2010 a taxa observada dez anos antes. Em 1980, representavam 0,7%
de todas as mortes de crianças e adolescentes. Em 2010, foram responsáveis por
11,5%.
Entre os
estados, o que proporcionalmente mais teve crianças e adolescentes assassinados
em 2010 foi Alagoas, com uma taxa de 34,8 por 100 mil. O estado era o décimo em
2000, quando a taxa era de 10,1 por 100 mil. Enquanto Alagoas passou da décima
para a primeira posição, o Rio fez o caminho inverso. O estado tinha a pior
taxa em 2000 — 25,9 por 100 mil — e em 2010 era o décimo pior, tendo caído
33,3%, para 17,2 assassinados a cada 100 mil.
A maior
queda na taxa de homicídios foi em São Paulo: 76,1% entre 2000 e 2010. Além de
Rio e SP, Pernambuco, Distrito Federal, Roraima e Mato Grosso do Sul caíram. O
estudo levou em conta 523 municípios que, segundo o Censo 2010, têm população
com mais de 20 mil pessoas de zero aos 19 anos.
Para
Julio Jacobo há uma interligação de fatores que ajuda a explicar o aumento. Ele
lembra que em 2000 foi implantado o Plano Nacional de Segurança Pública, que
concentrou seus investimentos nos maiores polos de violência. Mas novos polos
surgiram:
—
Surgiram polos no interior e em outros estados sem recursos financeiros e sem
tradição das polícias para o enfrentamento da criminalidade.
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